Homens Socráticos

Hoje, enquanto aguardava minha vez de cortar o cabelo, foleava despreocupadamente um livro, adquirido por módicos três reais em um sebo no centro da cidade.
O livro em questão faz parte da série sobre a história universal e o título que comprei tratava acerca da Grécia em seu período de ouro durante a regência de Péricles e as guerras fratricidas, ou peloponésias como queiram chamá-las.
Como o tempo custava a passar comecei a ler atentamente sobre Sócrates, aquele grande pensador que em muito contribuiu para os gregos e para a humanidade.
Achei interessante uma parte em que um sofista o interpele, segundo Xenofonte, e lhe fala: Tu levas uma vida que nenhum escravo poderia suportar, nunca ele se contentaria com tão pouco alimento, bebida e vestuário. Devo reconhecer que me dás lições de pobreza. Ao que Sócrates responde: Aprecias tu mais os teus pratos suculentos do que eu aprecio o meu alimento? Pareces julgar que a felicidade reside numa vida custosa, cheia de coisas supérfulas. Em contrapartida, eu penso que se vive como um deus quando não se tem necessidades. Aquele que menos necessidades tem mais se aproxima da divindade.
Qual tal se nossos homens públicos seguissem tal conselho? Aos olhos de muitos uma coisa como essa pode parecer totalmente fora da realidade e, até mesmo para nós, de dificil aplicação.
Porém se pensarmos o quão melhor seria se conseguissemos domar, nem que fosse um pouco, os apetites mundanos e anti-éticos que temos enraizados em nosso meio social.
Alcibiades, um estadista grego de grande renome e amigo de Sócrates, dizia aos outros que a maior de todas as deusas era a Necessidade. Por ela os homens acordavam cedo, laboravam, guerreavam e procuravam algo mais em suas vidas.
Imaginem se as necessidades de nossos homens públicos fossem voltadas ao bem comum. Que o seu daimonion, a sua voz da consciência, lhes fizessem conhecer o bem e poder praticá-lo. É uma pura questão de prioridades.
Não somente nossos homens públicos mas também nossa sociedade como um todo. Buscarmos adorar menos a deusa Necessidade para que tenhamos um planeta sustentável e para que possamos agir com ética em relação aos outros ou tornar sua adoração saudável para todos, que se invertam as prioridades, que o interesse comum se consolide em relação aos interesses individuais.
Não é sem tempo lembrar que Sócrates foi sentenciado à morte por acusações infundadas de inimigos persistentes. Conta-se que na prisão seus seguidores propuseram-lhe a fuga e ele lhes disse que se fizesse isso estaria sendo incoerente, indo contra a lei que por toda vida lhe deu guarida, deveria, por certo, cumprir a sentença, mesmo sendo inocente.
Sejamos um pouco socráticos em nossas vidas diárias que poderemos construir uma nação muito melhor.
Por fim fiz meu rito de adoração à deusa Necessidade, cortei meu cabelo e fiquei satisfeito.

PS: Livro História Universal- Grécia Imortal, por Carl Grimberg

Comentários

disse…
Muito Legal Gil. Parabéns!!
Adorei a Deusa Necessidade, muito verdade. Levarei à diante a historinha.
Bjos

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