Lugar de livro é no lixo
Espero não ter chego para suprir o lugar de nosso colega Gustavo. Recebi o convite, para compartilhar algumas reflexões neste blog, do colega Leandro Damásio e espero que seja de algum interesse para eventuais leitores do blog, que pelo número de comentários parece um tanto quanto silencioso, calmo. Seriam os leitores meros voyeurs passivos? Pretendo, então, provocar o diálogo, algum debate.
Bom, para iniciar desejo propor uma reflexão em cima de uma matéria muito curiosa do Estadão, de 01 de fevereiro de 2008 - "Escola joga livros no lixo"
fonte: http://txt4.jt.com.br/editorias/2008/02/01/ger-1.94.4.20080201.24.1.xml
Trecho:
Cerca de 400 obras literárias, incluindo autores renomados como Federico García Lorca, Machado de Assis e Guimarães Rosa, amontoadas em sacos de lixo e jogadas na calçada, próximos a um bueiro. Foi assim que os moradores da Rua Jundiapeba, na Vila Zelina, região da Vila Prudente, na Zona Leste, encontraram na quarta-feira os livros descartados pela Escola Municipal Ruth Lopes Andrade. Mais no site supracitado.
Qual o significado de tal ato? Para além dos motivos que a escola venha a alegar. Tratar os livros dessa forma o que representa? Qual o significa simbólico disso? Quais os pressupostos valorativos que estão operando aí por baixo deste ato?
Para mim isso representa que os livros não fazem mais sentido. As escolas e os livros não combinam mais. Se aquilo que deveria ser das coisas mais importantes da escola é tratado dessa forma, o que restou da escola? O que há lá ainda? O que queremos com essas escolas? A leitura algo tão chato, sem graça, tedioso, difícil, perturbadora não nos serve mais. Não precisamos mais disso. Dizem que somos uma cultura das imagens. Que nos alimentamos mais de imagens. E então ao invés de lermos podemos ir ao teatro ver a peça do livro, ou ver o filme, ou a novela do livro. E veja bem, não é qualquer filme, qualquer peça ou novela. É preciso adaptar, porque também não queremos ver coisas que nos deixem mal, ou tristes, ou "intelectualizadas" demais, pois não entenderemos. Por favor, o que queremos, então? Queremos nos ver nos livros, nas telas, nas peças? Tudo que não for nós mesmos, rechaçamos?
Os livros deixaram de fazer sentido? Os clássicos perderam seu poder? A cultura milenar do livro acabou? Menos de meio século e já decretamos o fim dos livros? Mal inauguramos as escolas, há pouco que temos escola para todos, mas desde já decretamos que não queremos mais livros. E por conseqüência também não queremos mais escola, não queremos mais educação... Cansamos. Muito trabalho. Realmente, depois de oito horas de trabalho e quatro horas de televisão é impossível ainda restar forçar para enfrentar um clássico. Considerando ainda que essa força terá que ser sobre-humana já que o leitor na melhor das hipóteses é um analfabeto funcional. Bom, então qual o destino dos livros? Como fica nossa formação? Como fica a alma de nossa nação? Será que é possível construirmos ou restaurarmos nossa alma nacional com Paulo Coelho? Zibia Gasparetto? Harry Potter? Nuno Cobra? Lair Ribeiro? Falar em alma para espíritos seculares é um absurdo. Imagina, falar em espírito de um povo, alma de uma nação. Essas expressões perderam total sentido. Fizeram sentido no século XIX, hoje assistimos o seu declínio. Em mais 100 anos estará completamente destruída. Ficaremos com nossos videogames, IPods, Televisões Digitais e outras inovações ultra-tecnológicas. Temo que uma tecnologia e uma ciência sem espírito nos desumanize cada vez mais. Permitindo barbáries como foram nazismo, stalinismo.
Parece que não nos importamos muito com a desumanização do homem. Tanto é assim que falamos em campanhas ridículas de conscientização para a leitura. Tentando com os argumentos mais estúpidos convencer um jovenzinho de 14, 15, 16 anos a se apaixonar pelos clássicos. Por favor, deixem os clássicos falar. Se eles são clássicos é justamente por seu poder. Penso que é isso que fazem livros como do crítico literário Harold Bloom ("Como e por que ler?", "Gênio", "O Cânone Ocidental"), ou de George Steiner ("Lições dos Mestres"), ou Ítalo Calvino ("Por que ler os clássicos?"), entre vários outros.
Políticas públicas de incentivo à leitura são todas estúpidas. Enquanto não houver espaços onde se difunda o respeito e a reverência pelos clássicos, onde eles possam falar e servir de guias e faróis para a humanidade não haveremos de obter qualquer sucesso no estímulo à leitura, no prazer de ler, de cultivar o espírito. Se criarmos tais espaços nunca precisaremos desse tipo de política pública cretina. Se os clássicos deixaram de fazer sentido em grande medida é por causa dos maus leitores desses. Ou dos usos ridículos que tentam fazer usando seus nomes. Os clássicos se tornaram clássicos pois são obras de referência a todos os homens. Como podem deixar de fazer sentido? Que absurdo é esse?!
Desejo um futuro menos cruel para todos nós, péssimos leitores.
Bom, para iniciar desejo propor uma reflexão em cima de uma matéria muito curiosa do Estadão, de 01 de fevereiro de 2008 - "Escola joga livros no lixo"
fonte: http://txt4.jt.com.br/editorias/2008/02/01/ger-1.94.4.20080201.24.1.xml
Trecho:
Cerca de 400 obras literárias, incluindo autores renomados como Federico García Lorca, Machado de Assis e Guimarães Rosa, amontoadas em sacos de lixo e jogadas na calçada, próximos a um bueiro. Foi assim que os moradores da Rua Jundiapeba, na Vila Zelina, região da Vila Prudente, na Zona Leste, encontraram na quarta-feira os livros descartados pela Escola Municipal Ruth Lopes Andrade. Mais no site supracitado.
Qual o significado de tal ato? Para além dos motivos que a escola venha a alegar. Tratar os livros dessa forma o que representa? Qual o significa simbólico disso? Quais os pressupostos valorativos que estão operando aí por baixo deste ato?
Para mim isso representa que os livros não fazem mais sentido. As escolas e os livros não combinam mais. Se aquilo que deveria ser das coisas mais importantes da escola é tratado dessa forma, o que restou da escola? O que há lá ainda? O que queremos com essas escolas? A leitura algo tão chato, sem graça, tedioso, difícil, perturbadora não nos serve mais. Não precisamos mais disso. Dizem que somos uma cultura das imagens. Que nos alimentamos mais de imagens. E então ao invés de lermos podemos ir ao teatro ver a peça do livro, ou ver o filme, ou a novela do livro. E veja bem, não é qualquer filme, qualquer peça ou novela. É preciso adaptar, porque também não queremos ver coisas que nos deixem mal, ou tristes, ou "intelectualizadas" demais, pois não entenderemos. Por favor, o que queremos, então? Queremos nos ver nos livros, nas telas, nas peças? Tudo que não for nós mesmos, rechaçamos?
Os livros deixaram de fazer sentido? Os clássicos perderam seu poder? A cultura milenar do livro acabou? Menos de meio século e já decretamos o fim dos livros? Mal inauguramos as escolas, há pouco que temos escola para todos, mas desde já decretamos que não queremos mais livros. E por conseqüência também não queremos mais escola, não queremos mais educação... Cansamos. Muito trabalho. Realmente, depois de oito horas de trabalho e quatro horas de televisão é impossível ainda restar forçar para enfrentar um clássico. Considerando ainda que essa força terá que ser sobre-humana já que o leitor na melhor das hipóteses é um analfabeto funcional. Bom, então qual o destino dos livros? Como fica nossa formação? Como fica a alma de nossa nação? Será que é possível construirmos ou restaurarmos nossa alma nacional com Paulo Coelho? Zibia Gasparetto? Harry Potter? Nuno Cobra? Lair Ribeiro? Falar em alma para espíritos seculares é um absurdo. Imagina, falar em espírito de um povo, alma de uma nação. Essas expressões perderam total sentido. Fizeram sentido no século XIX, hoje assistimos o seu declínio. Em mais 100 anos estará completamente destruída. Ficaremos com nossos videogames, IPods, Televisões Digitais e outras inovações ultra-tecnológicas. Temo que uma tecnologia e uma ciência sem espírito nos desumanize cada vez mais. Permitindo barbáries como foram nazismo, stalinismo.
Parece que não nos importamos muito com a desumanização do homem. Tanto é assim que falamos em campanhas ridículas de conscientização para a leitura. Tentando com os argumentos mais estúpidos convencer um jovenzinho de 14, 15, 16 anos a se apaixonar pelos clássicos. Por favor, deixem os clássicos falar. Se eles são clássicos é justamente por seu poder. Penso que é isso que fazem livros como do crítico literário Harold Bloom ("Como e por que ler?", "Gênio", "O Cânone Ocidental"), ou de George Steiner ("Lições dos Mestres"), ou Ítalo Calvino ("Por que ler os clássicos?"), entre vários outros.
Políticas públicas de incentivo à leitura são todas estúpidas. Enquanto não houver espaços onde se difunda o respeito e a reverência pelos clássicos, onde eles possam falar e servir de guias e faróis para a humanidade não haveremos de obter qualquer sucesso no estímulo à leitura, no prazer de ler, de cultivar o espírito. Se criarmos tais espaços nunca precisaremos desse tipo de política pública cretina. Se os clássicos deixaram de fazer sentido em grande medida é por causa dos maus leitores desses. Ou dos usos ridículos que tentam fazer usando seus nomes. Os clássicos se tornaram clássicos pois são obras de referência a todos os homens. Como podem deixar de fazer sentido? Que absurdo é esse?!
Desejo um futuro menos cruel para todos nós, péssimos leitores.
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