Sobre pelegos, pelegada e peleguismo
O texto abaixo foi publicado dia 19/10/2007 por Lucia Hippolito, em seu blog.
"Será o renascimento do peleguismo?
A Câmara dos Deputados aprovou projeto que legaliza a existência das centrais sindicais. Pelo acordo firmado com o governo, as centrais receberiam parte do imposto sindical obrigatório.
Vale a pena lembrar aqui. O imposto sindical é a cobrança de um dia de salário por ano, descontado de todos os trabalhadores formais e autônomos, sindicalizados ou não.
Esta montanha de dinheiro é assim distribuída: 60% para os mais de 7.500 sindicatos; 15% para as federações; 5% para as confederações, e 20% para o Ministério do Trabalho. (isso mesmo!).
Desses 20% do Ministério do Trabalho, o governo decidiu que metade iria para o financiamento das centrais sindicais.
O governo decidiu, mas esqueceu de combinar com o Congresso, inclusive com deputados do próprio partido do presidente da República.
Na madrugada de quinta-feira, a Câmara aprovou uma emenda ao projeto, extinguindo a cobrança obrigatória do imposto sindical.
E com votos do Partido dos Trabalhadores.
Para entender esta encrenca, precisamos recuar até a década de 70, quando surgiu no ABC paulista um novo sindicalismo, bastante diferente do sindicalismo pelego existente até então.
(Parênteses importante para falar sobre o pelego. Palavra bem conhecida dos gaúchos, pelego é uma manta de pele de carneiro colocada entre a montaria e a sela para proteger o lombo do animal. Na década de 50, quando o PTB se apossou do Ministério do Trabalho e passou a controlar os sindicatos operários, “pelego” passou a designar os dirigentes sindicais subservientes ao partido e ao governo, muitas vezes sustentados pelo Ministério do Trabalho, através de empregos públicos e favores de toda espécie. Sua ação se concentrava sobretudo na contenção das reivindicações sindicais, distribuindo em troca algumas benesses recebidas do governo.)
Os novos sindicalistas, liderados por Luiz Inácio da Silva, o Lula, eram contrários à cobrança do imposto sindical, à representação por categoria e à base territorial, entre outros componentes do modelo sindical da época.
O Partido dos Trabalhadores foi fundado por estes sindicalistas, membros das Comunidades Eclesiais de Base (da Igreja Católica) e intelectuais, muitos deles especializados em movimento sindical. Estes intelectuais contribuíram para a formulação do pensamento do PT a respeito do sindicalismo, incorporando todas as bandeiras dos sindicatos do ABC.
Portanto, a luta do PT contra o imposto sindical é uma bandeira histórica do partido, talvez um dos principais fundamentos da própria existência do PT. Por isso, foi com extremo constrangimento que muitos petistas votaram a favor da legalização das centrais sindicais.
No entanto, o fim da cobrança obrigatória do imposto sindical foi apoiado por deputados do PT, e acabou aprovado, por 215 a 161.
Mas os dirigentes das cinco centrais sindicais – CUT, Força Sindical, Nova Central Sindical, Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e União Geral dos Trabalhadores (UGT) – reagiram e prometem dar o troco.
Os novos pelegos do sindicalismo brasileiro querem pressionar o Senado e ameaçam panfletar as fotos dos deputados que votaram a favor do fim do imposto sindical obrigatório.
Afinal, eram recursos “carimbados”, provenientes do salário dos trabalhadores. Dinheiro certo, sem precisar fazer o menor esforço.
Legalizar centrais sindicais financiando-as com imposto sindical é retroceder pelo menos 50 anos. É constituir um movimento sindical totalmente atrelado ao Estado, tutelado e sustentado pelo Ministério do Trabalho.
Em vez de centrais sindicais, centrais pelegas.
É a volta da pelegada.
"Será o renascimento do peleguismo?
A Câmara dos Deputados aprovou projeto que legaliza a existência das centrais sindicais. Pelo acordo firmado com o governo, as centrais receberiam parte do imposto sindical obrigatório.
Vale a pena lembrar aqui. O imposto sindical é a cobrança de um dia de salário por ano, descontado de todos os trabalhadores formais e autônomos, sindicalizados ou não.
Esta montanha de dinheiro é assim distribuída: 60% para os mais de 7.500 sindicatos; 15% para as federações; 5% para as confederações, e 20% para o Ministério do Trabalho. (isso mesmo!).
Desses 20% do Ministério do Trabalho, o governo decidiu que metade iria para o financiamento das centrais sindicais.
O governo decidiu, mas esqueceu de combinar com o Congresso, inclusive com deputados do próprio partido do presidente da República.
Na madrugada de quinta-feira, a Câmara aprovou uma emenda ao projeto, extinguindo a cobrança obrigatória do imposto sindical.
E com votos do Partido dos Trabalhadores.
Para entender esta encrenca, precisamos recuar até a década de 70, quando surgiu no ABC paulista um novo sindicalismo, bastante diferente do sindicalismo pelego existente até então.
(Parênteses importante para falar sobre o pelego. Palavra bem conhecida dos gaúchos, pelego é uma manta de pele de carneiro colocada entre a montaria e a sela para proteger o lombo do animal. Na década de 50, quando o PTB se apossou do Ministério do Trabalho e passou a controlar os sindicatos operários, “pelego” passou a designar os dirigentes sindicais subservientes ao partido e ao governo, muitas vezes sustentados pelo Ministério do Trabalho, através de empregos públicos e favores de toda espécie. Sua ação se concentrava sobretudo na contenção das reivindicações sindicais, distribuindo em troca algumas benesses recebidas do governo.)
Os novos sindicalistas, liderados por Luiz Inácio da Silva, o Lula, eram contrários à cobrança do imposto sindical, à representação por categoria e à base territorial, entre outros componentes do modelo sindical da época.
O Partido dos Trabalhadores foi fundado por estes sindicalistas, membros das Comunidades Eclesiais de Base (da Igreja Católica) e intelectuais, muitos deles especializados em movimento sindical. Estes intelectuais contribuíram para a formulação do pensamento do PT a respeito do sindicalismo, incorporando todas as bandeiras dos sindicatos do ABC.
Portanto, a luta do PT contra o imposto sindical é uma bandeira histórica do partido, talvez um dos principais fundamentos da própria existência do PT. Por isso, foi com extremo constrangimento que muitos petistas votaram a favor da legalização das centrais sindicais.
No entanto, o fim da cobrança obrigatória do imposto sindical foi apoiado por deputados do PT, e acabou aprovado, por 215 a 161.
Mas os dirigentes das cinco centrais sindicais – CUT, Força Sindical, Nova Central Sindical, Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e União Geral dos Trabalhadores (UGT) – reagiram e prometem dar o troco.
Os novos pelegos do sindicalismo brasileiro querem pressionar o Senado e ameaçam panfletar as fotos dos deputados que votaram a favor do fim do imposto sindical obrigatório.
Afinal, eram recursos “carimbados”, provenientes do salário dos trabalhadores. Dinheiro certo, sem precisar fazer o menor esforço.
Legalizar centrais sindicais financiando-as com imposto sindical é retroceder pelo menos 50 anos. É constituir um movimento sindical totalmente atrelado ao Estado, tutelado e sustentado pelo Ministério do Trabalho.
Em vez de centrais sindicais, centrais pelegas.
É a volta da pelegada.
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